O que é a meningite, causas, sintomas e tratamento da meningite. Classificação da meningite, nomeadamente meningite viral e meningite bacteriana.


Prevenção e controle da meningite

Para alguns dos agentes infecciosos causadores das meningites é possível dispor de medidas de prevenção primária, tais como vacinas e quimioprofilaxia. O diagnóstico e o tratamento precoces são fundamentais para um bom prognóstico da doença.


1 QUIMIOPROFILAXIA
A quimioprofilaxia não assegura efeito protetor absoluto e prolongado, mas é uma medida eficaz na prevenção de casos secundários, sendo indicado para os contatos íntimos nos casos de doença meningocócica e meningite por Haemophilus influenzae e para o paciente no momento da alta (exceto se o tratamento foi com ceftriaxona, pois esta droga é capaz de eliminar o meningococo da orofaringe). A rifampicina é a droga de escolha para a quimioprofilaxia, administrada em dose adequada e simultaneamente a todos os contatos íntimos, no prazo de 48 horas da exposição à fonte de infecção, considerando o período de transmissibilidade da doença. O uso restrito da droga evita a seleção de meningococos resistentes.

2 IMUNIZAÇÃO
As vacinas contra meningite são específicas para diferentes agentes etiológicos, sendo que algumas fazem parte do calendário básico de vacinação da criança e outras estão indicadas apenas em situações de surto.
A educação da população em saúde é uma forma de prevenir e controlar doenças infecciosas. Portanto, a população deve ser orientada para os sinais e sintomas desta doença, hábitos, condições de higiene e disponibilidade de demais medidas de controle e prevenção, como quimioprofilaxia e vacinas. A população deve procurar o serviço de saúde imediatamente em caso de suspeita da doença.
As estratégias para prevenção e controle incluem:
- Orientação sobre higiene corporal e ambiental, bem como manutenção de ambientes domiciliares e ocupacionais ventilados, evitando aglomeração depessoas em ambientes fechados;
- Mecanismos de transmissão da doença;
- Capacitação de profissionais de saúde para diagnóstico e tratamento precoces;
- Notificação de todos os casos suspeitos às autoridades de saúde;
- Investigação imediata dos casos notificados como meningite;
- Realização de quimioprofilaxia dos contatos íntimos, quando aplicável;
- Manutenção da cobertura vacinal contra BCG e Hib;
- Detecção precoce e investigação rápida de surtos;
- Realização da vacinação para bloqueio de surtos, quando aplicável.

Meningite em crianças

  • A escolha do antibiótico para o tratamento da meningite aguda da criança sempre foi, na maior parte dos casos, empírica; levando-se em consideração as bactérias incidentes na faixa etária do paciente.
  • Classicamente, os estudos epidemiológicos determinavam que o tratamento antibiótico deveria focalizar nos recém-nascidos os bacilos entéricos gram-negativos, o estreptococo do grupo B e, eventualmente,a listeria; em crianças de 3 meses a 5 anos -o pneumococo, o hemófiloe o meningococo; nos maiores -o pneumococo e o meningococo.
  • Para estas bactérias a escolha terapêutica preferencial seria uma cefalosporinade terceira geração (enterobactéria/hemófilo), penicilina (meningococo/pneumococo), ampicilina(listeria), ou penicilina e aminoglicosídeo(estreptococo).

Meningites Crônicas

  • Meningite crônica é uma síndrome que se caracteriza por febre, cefaléia, letargia, confusão mental, náuseas, vômitos, rigidez nucal, com alterações liquóricas, com duração de 4 semanas ou mais.
  • Geralmente, a meningite crônica atinge indivíduos cujo sistema imune está comprometido devido à AIDS, à um câncer, à outras doenças graves, a medicamentos anticâncer ou ao uso prolongado de prednisona.
  • Alguns organismos infecciosos podem invadir o cérebro e desenvolver-se muito lentamente, causando sintomas e lesões de uma forma gradual. Os mais comuns são o fungo Cryptococcus; o citomegalovírus; o vírus da AIDS; e as bactérias que causam a tuberculose, a sífilis e a doença de Lyme.

Meningite fúngica

As meningites causadas por agentes fúngicos podem ocorrer como infecções oportunistas ou surgir em hospedeiros imunocomprometidos (diabetes, doença maligna, terapia iminossupressora ou AIDS). Os agentes patológicos habituais são:
Cryptococcus neofarmans, Coccidioides immitis, Candida albicans, Aspergillus spp, Histoplasma capsulatum, Blatomyces e Mucor spp. A meningite crônica pode ser causada por fungos dos gêneros Coccidioides e Candida.
O diagnóstico feito por exame de LCR mostra pleiocitose mista, com predomínio linfocítico, níveis elevados de proteínas, níveis de glicose normais ou ligeiramente diminuídos; coloração de tintura da Índia pode identificar Cryptococcus; geralmente cultura positiva para fungos e teste de aglutinação com látex para antígeno criptocócico sensível para este organismo.
Devido a variabilidade clínica e patológica, a resposta à meningite criptocócica depende do estado imunológico do paciente. Os criptococos do LCR podem provocar desde uma resposta inflamatória trivial, mesmo com grande número de organismos nos espaços subaracnóide e perivascular (pacientes com depressão de imunidade) até meningite crônica acentuada. A evolução clínica pode ser indolente por meses ou anos, ou pode ser fulminante ou fatal em duas semanas.
Geralmente, a meningite fúngica causada por Mucor e Aspergillus leva à inflamação e necroses locais e o desbridamento cirúrgico pode ser necessário. A meningite crônica resulta da reação inflamatória contínua no espaço subaracnóide e a fibrose aracnóide pode causar hidrocefalia; a endarterite obliterativa pode resultar em isquemia ou infarto do encéfalo que depende da artéria ocluída, com resultado catastrófico como na oclusão da artéria espinhal anterior.
Hidrocefalia, paralisia dos nervos cranianos, arterite com infarto cerebral e formação de abscessos são algumas das complicações descritas para a meningite fúngica).
Biópsia, cultura de tecidos ou sorologia são métodos confiáveis para diagnóstico de infecções fúngicas intracranianas.
A base do tratamento das infecções fúngicas é a anfotericina B, seguindo protocolo bem estabelecido em função de sua alta incidência de toxicidade, com 1 mg por dia, dobrando-se a dose diariamente até alcançar 16 mg/dia, para alcançar a<dose terapêutica de 0,5 a 1,5 mg/kg por dia. Fluocitosina,<miconazol, cetoconazol e fluconazol são efetivos anti-fúngicos.
Todos os grupos etários são susceptíveis à infecção fúngica. A cura<permanente é exceção, com mortalidade comum, especialmente nas infecções nãocriptocócicas<(50-90%) e os pacientes com infecções criptocócicas normalmente precisam de tratamento por toda a vida.

Tratamento de meningite viral

O tratamento das meningites virais é de suporte: 
antitérmicos como dipirona, antieméticos (metoclopramida), cabeceira elevada a 30º. Se o paciente estiver sonolento ou confuso ou com dificuldade de deglutição, deverá ser mantida sonda nasogástrica para hidratação adequada e evitar broncoaspiração.
Nos casos de herpes vírus pode ser utilizado o aciclovir com a seguinte posologia: 10 mg/kg/dose a cada oito horas, por 14 a 21 dias. A punção liquórica alivia a cefaléia por diminuir a pressão intracraniana.
Os casos de internação são excepcionais, apenas para evitar a desidratação provocada pelos vômitos, diminuir a cefaléia e melhorar as condições gerais. O uso de corticosteróides é discutível, assim como a gamaglobulina.
Em surtos do tipo caxumba, faz-se busca ativa dos casos e o bloqueio da transmissão por meio da imunização.

Meningite viral

A meningite viral caracteriza-se por um quadro clínico de alteração neurológica, que, em geral, evolui de forma  enigna. Os casos podem ocorrer isoladamente, embora o aglomerado de casos (surtos) seja comum.
Indivíduos de todas as idades são suscetíveis, porém a faixa etária de maior risco é a de menores de cinco anos. Aproximadamente 85% dos casos são devido ao grupo dos Enterovírus, dentre os quais se destacam os Poliovírus, os Echovírus e os Coxsackievírus dos grupos A e B 1,2. O manejo deve ser adequado para cada etiologia. Apresentam-se a seguir as principais etiologias, manejo, possibilidade diagnóstica e tratamento desta entidade nosológica.
A meningite viral é geralmente benigna, na maioria dos casos com líquor de celularidade de 50 a 500 células/mm, com predomínio de linfomononuclear.
Caracteriza-se por um quadro clínico de alteração neurológica que, em geral, evolui de forma benigna.
Os casos podem ocorrer isoladamente, embora o aglomerado de casos (surtos) seja comum. Indivíduos de todas as idades são suscetíveis, mas a faixa etária de maior risco é a de menores de cinco anos (Tabela).
Agentes etiológicos mais freqüentes No grupo dos Enterovírus, destacam-se os da família Picornaviridae: Echovirus, os Poliovírus e os Coxsackievírus dos grupos A e B.

Bactérias que causam meningite

Três espécies de bactérias são as principais responsáveis por causar meningite.
A Neisseria meningitidis pode causar doença em pessoas de todas as idades. Em qualquer momento da vida, cerca de 5 a 15% das pessoas têm estas bactérias na garganta ou nariz, porém não ficam doentes. A transmissão ocorre pela saliva por meio do beijo, do compartilhamento de alimentos, de bebidas ou de cigarros, assim como por contato próximo a pessoas infectadas que estejam tossindo ou espirrando. As pessoas que tiveram contato íntimo com a saliva de alguém com meningite causada por este tipo de bactéria podem necessitar de tratamento preventivo com antibiótico para não adoecer. Os principais sorogrupos de meningococo são A, B e C, sendo o sorogrupo C atualmente o mais freqüente. A meningite causada por estas bactérias é chamada “meningocócica”. A meningite por meningococo tem importância devido à gravidade do quadro clínico, rápida evolução e pela possibilidade de causar surtos ou epidemias. Existem vacinas que podem ser aplicadas para ajudar na prevenção de alguns sorogrupos de meningite.
O Haemophilus influenzae também pode causar meningite, sendo o tipo b o mais comum. A vacina chamada “Hib”, contra o tipo b, evita esta doença em bebês muito novos e crianças. Pessoas que tiveram contato íntimo com a saliva de pessoas com meningite causada por este tipo de bactéria podem necessitar de tratamento com antibiótico para não adoecer.
O Streptococcus pneumoniae causa infecções nos pulmões e no ouvido, mas também podem causar a meningite
“pneumocócica”. Existem vários sorotipos de pneumococo. A maioria das pessoas que tem estas bactérias na garganta continua saudável. No entanto, indivíduos com problemas crônicos de saúde ou com o sistema imune enfraquecido, assim como os muito jovens ou muito velhos, têm risco aumentado de apresentar meningite pneumocócica. A meningite causada pelo Streptococcus pneumoniae não é transmitida de pessoa para pessoa. As pessoas com contato próximo com alguém que tenha meningite pneumocócica não precisam tomar antibióticos, preventivamente.

Tratamento da meningite bacteriana aguda

Considerando a alta letalidade e as seqüelas associadas às meningites bacterianas agudas deve-se instituir o tratamento antimicrobiano antes dos resultados dos exames. Sua eficácia depende de vários fatores, como susceptibilidade do microrganismo ao antimicrobiano utilizado, atividade bactericida deste agente, capacidade da droga em penetrar no SNC, etc.
A escolha inicial da terapia antimicrobiana deve se basear em sua ação bactericida sobre os agentes mais freqüentes, na faixa etária do paciente, no local de aquisição (hospitalar ou comunitária), assim como a análise dos fatores de risco. Após o antibiograma e a identificação completa do agente, deve ser realizada a adequação da terapia.

Meningite bacteriana aguda

A meningite bacteriana aguda é um processo inflamatório que envolve a aracnóide, pia-máter e o líquor cefalorraquidiano (LCR), decorrente da invasão do sistema nervoso central por bactérias. É uma infecção associada a significativa morbi-mortalidade em adultos e crianças. O risco do desenvolvimento de complicações ou óbito está relacionado à idade, condições clínicas prévias, o agente causal, gravidade da infecção e o retardo na instituição da terapia adequada.
O manuseio adequado do paciente com meningite bacteriana aguda depende do reconhecimento precoce desta síndrome infecciosa, assim como da avaliação diagnóstica e na instituição rápida da terapia antimicrobiana e adjuvante.
Todas as meningites são de notificação compulsória, mesmo na suspeita (lembre-se de entrar em contato com o SCIH).
Considera-se como caso suspeito de meningite bacteriana aguda, todo paciente com quadro de febre alta, de inicio súbito, vômitos, sem outro foco infeccioso aparente, acompanhado de cefaléia intensa, rigidez de nuca, sonolência, torpor, irritação, diminuição da sucção em lactentes, abaulamento de fontanela e convulsões.

Meningite bacteriana no mundo

As meningites têm distribuição mundial e sua expressão epidemiológica depende de diferentes fatores, como o agente infeccioso, a existência de aglomerados populacionais, características socioeconômicas dos grupos populacionais e do meio ambiente (clima).
De modo geral, a sazonalidade da doença caracteriza-se pelo predomínio das meningites bacterianas no inverno e das meningites virais no verão. A N. meningitidis é a principal bactéria causadora de meningite. Tem distribuição mundial e potencial de ocasionar epidemias. Acomete indivíduos de todas as faixas etárias, porém apresenta uma maior incidência em crianças menores de 5 anos, especialmente em lactentes entre 3 e 12 meses.
Durante epidemia, observam-se mudanças nas faixas etárias afetadas, com aumento de casos entre adolescentes e adultos jovens. O “cinturão africano” – região ao norte da África – é freqüentemente acometido por epidemias causadas por esse agente.

Tratamento da meningite bacteriana

  • A meningite bacteriana é tratada imediatamente com antibióticos intravenosos e com corticosteróides também administrados por via intravenosa a fim de suprimir a inflamação.
  • O médico pode utilizar um ou mais antibióticos para atingir as bactérias que provavelmente são as responsáveis pela infecção.
  • Após a identificação da bactéria específica (um ou dois dias depois), os antibióticos podem ser substituídos por outros mais adequados para combater a infecção. O tratamento também inclui a reposição de líquido que o indivíduo perdeu devido à febre, ao suor, ao vômito e à falta de apetite.

Sintomas da meningite bacteriana

A meningite bacteriana normalmente apresenta cefaléia, febre, letargia, vômitos freqüentemente com sinais neurológicos focais e convulsões. Os pacientes podem ter antecedentes respiratório ou infecção sinusal. Cefaléia e dor nucal são proeminentes e estão relacionadas à fotofobia, náusea e vômitos. O meningismo é caracterizado pela resistência à flexão do pescoço – rigidez da nuca. A proteção das vias aéreas podem ser comprometidas pelas alterações de consciência e convulsões prolongadas).
A partir dos sinais descritos, a avaliação e início do tratamento devem ser rápidos, por ser uma doença com risco de vida.
As complicações e seqüelas de meningite bacteriana são principalmente devido a inflamação das meninges e seus vasos sanguíneos, que pode danificar cérebro ou nervos cranianos pela presença de convulsões, paralisias de nervos cranianos, lesões cerebrais focais, danos à medula espinhal ou às raízes nervosas e hidrocefalia.

Meningite tuberculosa

A meningite tuberculosa difere da meningite causada por outras bactérias por sua evolução mais demorada, mortalidade mais elevada, alterações do LCR de menor gravidade e o tratamento menos eficaz, com maior número de seqüelas . É uma meningite subaguda, onde o início dos sintomas não é agudo, com menor grau de inflamação e evolução mais protraída.
Esta meningite é uma complicação severa da tuberculose e o declínio dessa letalidade se deve a descoberta de quimioterápicos específicos para a tuberculose a partir de 1945, e atualmente é uma doença curável, se diagnosticada precocemente.
Se a prevalência da tuberculose é alta, a primo-infecção tuberculosa e a meningite tuberculosa se tornam freqüentes em idades mais baixas.
A meningite tuberculosa é prevalente nos grupos de alto risco, como imunocomprometidos, imigrantes de áreas endêmicas e pessoas altamente expostas (como membros da família e trabalhadores da saúde). Pode ocorrer em qualquer idade, sendo mais comum em crianças e adultos jovens, com suscetibilidade maior nos menores de cinco anos. A vacina BCG protege em torno de 80%, evitando a disseminação hematogênica do bacilo e o desenvolvimento de formas meníngeas.
A meningite tuberculosa, decorrente da disseminação hematogênica do bacilo, é uma das complicações mais graves da tuberculose A meningite tuberculosa deve ser diferenciada de outras doenças infecciosas que comprometem o sistema nervoso central, determinando manifestações clínicas e liquóricas semelhantes, dentre as quais, destacam-se: meningoencefalites virais, meningites bacterianas não tuberculosa (Haemophylus influenzae, Streptococcus pneumoniae e Neisseria meningitidis) e meningite fúngica (Cryptococcus neoformans). O diagnóstico precoce é importante e difícil, tornando importante valorizar os dados epidemiológicos e clínicos, indicando a análise liquótica nos casos de cefaléia e/ou vômitos persistentes, acompanhados ou não de hipertermia. Sem o diagnóstico e tratamento precoces não se evita seqüelas importantes e drásticas para a vida humana como aumento do perímetro encefálico, retardamento, espasticidade e hipertonicidade muscular.
O tratamento recomendado por Devisnky (2001) usa 4 drogas de primeira linha (rifampicina, isoniazida e pirazinamida e etambutol) nos primeiros 2 a 3 meses e redução para 2 drogas, se as sensibilidades às drogas é bem conhecida. Quando o paciente é sensível às drogas de primeira linha ou quando o microrganismo é resistente, recomenda-se drogas de segunda linha (estreptomicina, ciprofloxacina e etionamida). Davis (2003) recomenda a administração simultânea de três medicamentos - rifampicina, isoniazida e pirazinamida por 2 meses, seguido da combinação de rifampicina e isoniazida por 7 meses, que coincide com o esquema preconizado pelo Programa Nacional de Controle da Tuberculose.
Sem tratamento, a morte ocorre em 6 a 8 semanas. Com diagnóstico precoce e tratamento adequado, a recuperação é alta, em torno de 90%. Sem o diagnóstico e tratamento precoces não se evita seqüelas importantes e drásticas para a vida.
Seqüelas ocorrem em cerca de 25% dos pacientes recuperados, variando de grau mínimo de fraqueza facial a grave desorganização intelectual ou física (inclui surdez, crises convulsivas, cegueira, hemiplegia, paraplegia e tetraplegia).

Meningite meningocócica

A Neisseria meningitidis produz amplo espectro clínico de doença, incluindo patologias focais e invasivas e a meningite é a forma clássica mais observada. A meningite meningocócica é causada pelo diplococo gram-negativo Neisseria meningitidis, de ocorrência mundial e epidemias localizadas, representando 10 a 40% das meningites bacterianas. A primeira epidemia de meningite foi registrada em Genebra em 1805, descrita como meningite cérebro-espinhal epidêmica, e no Brasil foi descrita pela primeira vez em 1906. O homem é o único hospedeiro deste patógeno.
A doença inicia-se na orofaringe, passando para a circulação sistêmica. Os meningococos acessam as meninges a partir da nasofaringe, pela lâmina crivosa; as bactérias podem ser encontradas no sangue e nas lesões cutâneas, sugerindo assim que a disseminação é por via hematogênica.
No tratamento da infecção meningocócica emprega-se penicilina G, ampicilina e cloranfenicol, mas o uso intensivo da penicilina tem levado ao aparecimento de cepas resistentes. O tratamento preconizado pelo Guia de Vigilância Epidemiológica indica o uso de penicilina G cristalina, na dose de 300 a 500 milUI/kg/dia até 24.000.000UI/dia, de 3/3h ou 4/4h ou ampicilina, na dose de 200 a 400mg/kg/dia até 15g/dia, de 4/4h ou 6/6h, por 7 dias.
Tratamento profilático é recomendado para pessoas que têm contato com pacientes portadores de meningite meningocócica: sulfadiazina (0,5 a 1g, 2 vezes ao dia por 3 dias); se houver resistência à sulfadiazina, usar rifampicina (600 mg para adultos ou 10 m/kg para crianças, 2 vezes ao dia, por 2 dias) ou ciprofloxacina para adultos (em dose única oral de 500mg).
As complicações da meningite meningocócica são aquelas associadas às meninges (as mesmas descritas para meningites bacterianas) e aquelas associadas ao envolvimento de outras partes do corpo pelo meningococo, como panoftalmite e outros tipos de infecção ocular, artrite, púrpura, pericardite, endocardite, miocardite, pleurisia, orquite, epididimite, albuminuiria ou hematúria, hemorragias supra-renais, complicações por infecção intercorrente do trato respiratório superior, ouvido médio e pulmões. As seqüelas permanentes mais comuns estão relacionadas às lesões do sistema nervoso e incluem surdez, paralisia ocular, cegueiras, alterações mentais,
convulsões e hidrocefalia. Com tratamento adequado, esta sequelas são raras e as complicações são controladas.
O desenvolvimento da doença meningocócica depende de vários fatores predisponentes como ambientais, humanos, microbiológicos e culturais, sendo que ocorre na forma de pequeno surto epidêmico ou grande epidemia, de acordo com densidade populacional envolvida, condições propícias a entrada de cepa de maior virulência e quantidade de indivíduos imunodeprimidos. Esta doença se manifesta de forma endêmica, com morbidade elevada durante inverno até meados da primavera e a forma epidêmica está associada a convulsões sociais como guerras e depressão econômica. Os coeficientes de letalidade caíram ao longo do tempo, pelo desenvolvimento dos métodos curativos, melhoria nas condições sócio-econômicas, disponibilidade de medidas terapêuticas e profiláticas e melhora na qualidade da atenção clínico-hospitalar aos pacientes.

Meningite bacteriana

Nos países em desenvolvimento, as meningites bacterianas caracterizam um grave problema de saúde pública, por sua alta mortalidade, alta prevalência (especialmente em crianças) e seqüelas muitas vezes irreversíveis. Tais características exigem um profundo conhecimento de sua fisiopatologia e identificação de sinais e sintomas precoces para que o diagnóstico e tratamento melhorem este panorama.
Qualquer bactéria pode causar meningite bacteriana, porém avaliações mostram que os maiores responsáveis pelas meningites bacterianas são Haemophilus influenzae, Streptococus pneumoniae e Neisseria meningitidis. Na seqüência, tem-se estreptococo do grupo B e a Listeria monocytogenes. Agentes como enterobactérias e estafilococos acometem pacientes onde há deficiências no sistema imunológico, como na fase inicial ou final da vida.
Os tipos de bactérias que provocam a meningite estão relacionados com a faixa etária. Nos recém-nascidos, os estreptococos e os bacilos gram-negativos são os principais causadores da meningite. Na criança até cinco anos, predominam o Haemophilus Influenzae, o pneumococo e o meningococo. Dos cinco anos até a fase adulta predominam o meningococo e o pneumococo.
Os principais tipos de meningite podem ser classificados de acordo com o seu agente etiológico:
  • Meningite meningocócica – de ocorrência mundial, apresenta alta gravidade. Causada pelo meningococo Neisseria meningitidis, um patógeno respiratório que causa infecções endêmicas e epidêmicas.
  • Meningite causada pelo Haemophilus Influenzae – doença comum, prevalecendo em lactentes e crianças menores de cinco anos. Mais de 50% dos casos ocorrem em crianças menores de 2 anos e 90% deles em crianças menores de 5 anos. Em países onde a vacinação contra esta bactéria é generalizada, a incidência é desprezível, mas continua sendo uma doença importante nos demais países.
  • Meningite pneumocócica – causada pelo pneumococo Streptococcus pneumoniae, preocupa pela freqüência e alta taxa de letalidade e morbidade (20 a 30% de morbidade e 10% de mortalidade). Estas infecções predominam nos primeiros anos de vida e são freqüentemente acompanhadas por infecções pulmonares, otites e sinusites. Apesar da resistência bacteriana à penicilina, a letalidade pode ser reduzida com imunização, usando vacinas conjugadas contra os sorotipos mais freqüentes;
  • Meningite estafilocócica – o estafilococo raramente causa meningite, mas pode ocorrer como resultado de furúnculos no rosto, de infecção estafilocócica em outras partes do corpo ou ainda como uma complicação da trombose do seio cavernoso, de um abscesso epidural ou subdural, ou de procedimentos cirúrgicos.
  • Meningite estreptocócica – com baixo índice de incidência, esse tipo de meningite ocorre como secundária a algum foco séptico, principalmente nos seios nasais ou mastóideo. 70% das meningites bacterianas causadas em crianças com menos de um mês de idade é causada pelos estreptococos do grupo B.
  • Meningite tuberculosa – de evolução lenta, este tipo de meningite é muito comum em crianças e recém-nascidos que residem em regiões com alto índice de tuberculose.
A meningite purulenta aguda é causada por quase todas as bactérias patogênicas, e a subaguda pelo bacilo da tuberculose ou por organismos micóticos.
Independente da bactéria causadora, a meningite purulenta aguda tem substrato patológico, sintomas e evolução clínica semelhantes.

Diagnóstico laboratorial da meningite

O diagnóstico laboratorial das meningites é realizado através do estudo do líquido cefalorraquidiano, sangue e raspado de lesões petequiais, quando se suspeitar de meningococcemia e doença meningocócica. O diagnóstico das meningites virais também pode ser realizado através da urina e fezes.
Os principais exames para o esclarecimento diagnóstico de casos suspeitos de meningite são:



  • exame quimiocitológico do líquor;
  • bacterioscopia direta (líquor);
  • cultura (líquor, sangue, petéquias ou fezes);
  • contra-imuneletroforese cruzada – CIE (líquor e soro);
  • aglutinação pelo látex (líquor e soro).
O aspecto do líquor, embora não considerado um exame, funciona como um indicativo.
O líquor normal é límpido e incolor, como “água de rocha”. Nos processos infecciosos, ocorre o aumento de elementos figurados (células), causando turvação, cuja intensidade varia de acordo com a quantidade e o tipo desses elementos.

Modo de transmissão da meningite

Em geral, a transmissão é de pessoa a pessoa, através das vias respiratórias, por gotículas e secreções da nasofaringe, havendo necessidade de contato íntimo (residentes da mesma casa, pessoas que compartilham o mesmo dormitório ou alojamento, comunicantes de creche ou escola, namorado) ou contato direto com as secreções respiratórias do paciente.
A meningite tuberculosa é uma complicação da infecção tuberculosa. Os casos de tuberculose pulmonar com escarro positivo à baciloscopia constituem a principal fonte de infecção, pois eliminam grande número de bacilos, podendo provocar uma infecção maciça dos contatos, com maior probabilidade de desenvolvimento de formas graves da doença, como a meningite.
A transmissão fecal-oral é de grande importância em infecções por enterovírus.
Período de incubação
Em geral, é de 2 a 10 dias, em média de 3 a 4 dias. Pode haver alguma variação em função do agente etiológico responsável.
A meningite tuberculosa, em geral, ocorre nos primeiros 6 meses após a infecção.
Período de transmissibilidade
É variável, dependendo do agente infeccioso e da instituição do diagnóstico e tratamento precoces.
No caso da doença meningocócica, a transmissibilidade persiste até que o meningococo desapareça da nasofaringe. Em geral, isso ocorre após 24 horas de antibioticoterapia.
Aproximadamente 10% da população podem apresentar-se como portadores assintomáticos.
Suscetibilidade e imunidade
A susceptibilidade é geral, entretanto o grupo etário mais vulnerável são as crianças menores de 5 anos, mas as crianças menores de 1 ano e adultos maiores de 60 anos são mais suscetíveis à doença.

Definição de surto de meningite

Surto ou epidemia pode ser definido como ocorrência de uma doença numa frequência inesperada.
Para fins de vigilância, utiliza-se a seguinte classificação de surto:

  • Comunidade institucional (escola, creche, acampamento e alojamento): ocorrência de dois ou mais casos suspeitos de meningite num intervalo de até três semanas.
  • Comunidade aberta (bairro, município e outros): ocorrência do dobro do número de casos esperados de meningite de provável etiologia viral por três semanas sucessivas.

Classificação da meningite

A meningite pode ser classificada de acordo com o microrganismo que a desencadeou, isto é, de acordo com o seu agente etiológico: meningite bacteriana, meningite viral e meningite fúngica ou pode ser classificada como piogênica aguda (normalmente bacteriana), linfocítica aguda (viral) e crônica (bacteriana ou fúngica). Há ainda autores que classificam as meningites como bacterianas (ou purulentas), virais e granulomatosas (tuberculosas e fúngicas). A evolução da doença fornece a indicação da etiologia, pois na meningite viral as manifestações agudas são observadas em poucas horas, na meningite bacteriana de horas a um dia e na meningite fúngica ou tuberculosa de dias a duas semanas.

Características clínicas e laboratoriais da meningite

A meningite é mais freqüente nos meses quentes e caracteriza-se por quatro síndromes, podendo cursar com as seguintes características:
  • síndrome infecciosa: febre ou hipotermia, anorexia, apatia e sintomas gerais de um processo infeccioso;
  • síndrome de irritação radicular com sinais meníngeos característicos: rigidez de nuca, sinais de Köernig, Brudzinski e Lasègue;
  • síndrome de hipertensão intracraniana: cefaléia, vômitos sem relação com a alimentação, fundo de olho com edema de papila e,
  • síndrome encefalítica: caracterizada por sonolência ou agitação, torpor, delírio e coma.
A gravidade dependerá do agente etiológico, habilidade da equipe de saúde, diagnóstico precoce, faixa etária e estado imune do paciente. Apesar de a maioria dos casos evoluir de forma autolimitada e benigna, pode haver seqüelas como retardo mental, surdez, convulsões e perdas motoras ou sensoriais.
O diagnóstico deve ser precoce e na suspeita deve-se realizar punção liquórica, de preferência lombar, entre L3 e S1. Para a punção ser realizada de forma segura, é importante realizar-se exame de fundo de olho nos adultos e em crianças com fontanela fechada.
O aspecto do líquor é geralmente claro nas meningites virais, com menos de 500 células, mas na caxumba, pode haver turbidez devido à quantidade de células, de 300 a 3.000; o predomínio inicial é de neutrófilos, podendo alterar para linfomonocitário em seis a 48 horas. Deve-se tomar cuidado para não confundir com as meningites bacterianas parcialmente tratadas pelo uso de antibióticos prévios.
Na bioquímica do líquor costumeiramente há proteína, cloreto e glicose normais ou com discreta alteração. O nível normal de glicose do líquor corresponde a dois terços da glicemia normal, a proteína pode variar de 15 a 45 mg/dl e o cloreto, de 680 a 750 mg/dl.
Para a tentativa de isolamento dos Enterovírus deverão ser testadas amostras de líquor e fezes, além da pesquisa de anticorpos em amostras pareadas de soro.
No caso dos herpes vírus e citomegalovírus, pode ser realizada a reação em cadeia de polimerase (PCR), no LCR.